Começava mais uma manhã da famosa década de 80. “Acorda Nadja, tem que fazer lição.” Ahhh mas eu nunca começava minha lição sem primeiro assistir a Xuxa descer daquela nave. Café-da-manhã, banho, e mais uma enroladinha… Ixe! Ta na hora de ir para a escola. Tininha (minha segunda mãe) preparava meu lanche, que sempre voltava intacto ou ficava dias dentro da mochila para que ninguém soubesse que eu tinha comprado lanche na cantina da escola e não comia o que levava de casa.
Na sala de aula era aquela coisa… “Nadja onde estão seus óculos?”, dizia a professora. Eu sempre esquecia ou fingia que esquecia só para não usar. Não queria que as outras crianças zombassem de mim mais uma vez (sim, as crianças também podem ser cruéis). Eu adorava brincar no recreio. Pulava elástico, jogava queimada, adorava ir para a quadra olhar os jogos. Assistir aula nunca foi meu forte, mas fazia o possível para prestar atenção. E ao anotar a lição de casa sempre tinha algo errado, já que não usava óculos e não enxergava a lousa direito. Na hora que o sinal tocava para ir embora eu sempre, ou quase sempre, esquecia o guarda-chuva embaixo da carteira. Ixe, ia ter briga em casa de noite com certeza.
Já em casa, o uniforme parecia aquele tipo de roupa que não se tirava nem para dormir. E olha que não era falta de aviso. Nem lembro quantas vezes a Tina pedia para eu tomar banho e tirar o uniforme antes que a mamãe chegasse. Pior é que a televisão era mais importante. Eu era vidrada naqueles filmes de super herói japoneses, e não podia perder um episódio sequer. Resultado: mamãe chegava em casa e sempre tinha briga. Até que finalmente eu tomava meu banho e trocava de roupa. Ahh o banho… Durava pelo menos 30 minutos, isso sem contar que o banheiro se transformava em uma sauna. E desses trinta minutos, cinco eram para me lavar, o resto servia para ficar debaixo d’água cantarolando ou brincando de escrever no box. A enrolação só parava quando a mamãe berrava: “não sou sócia da light!!!”. Ahhh sem contar que de vez em quando eu ligava o chuveiro e não tomava banho… A água rolava e eu ficava no chão lendo gibi.
A hora das refeições também era um pouco tensa… Já que eu não gostava disso ou daquilo. A mamãe era sempre firme e não me deixava sair da mesa enquanto o prato não estivesse limpo. Sobrava para a Tina fazer companhia e me assistir brincar com a comida no prato por horas… E o pior era descobrir que tudo o que eu não comia em casa, comia com gosto na casa dos amigos.
Na época que o papai morava em casa eu não via a hora de ele chegar. Tudo ficava mais leve, ele sempre me salvava dos castigos da mamãe. Ele jogava vídeo game comigo, me levava ao Carrefour e comprava tudo o que eu queria, ou pelo menos nunca dizia não quando eu colocava algo no carrinho. Lembro-me muito bem daquela baguete quentinha que nunca chegava inteira no caixa… A gente comia no caminho…
Eu também adorava meus momentos a sós. Brincava no meu quarto e ouvia música no ultimo volume. Ahhhhhh era Xuxa para cá, Trem da Alegria para lá, Menudo… É só baixava o som quando a mamãe gritava lá de baixo pela milésima vez… “Abaixa esta m…..” Isso sem contar que brincar no prédio da vovó era simplesmente o máximo! Tinha tantos amigos, e a vovó sempre adoçava meus dias com amor e muitos mimos. Adorava dormir lá!
Dia de nota de prova ou boletim escolar eram os piores dias da minha vida. Acontecia de tudo, desde esconder o boletim por dias, até assinar pelos meus país e ser descoberta depois (e receber castigo, claro).
Quando a adolescência chegou tudo piorou… Horas e horas no telefone custaram mais brigas e contas altíssimas (na época cobrada por pulso). Festas na casa de um, na danceteria ou em lugares que a mamãe ficava de cabelo em pé só de imaginar. Todos os meus amigos moravam no ABC paulista e a gente não conhecia nada por lá. GPS era sonho para dali uns 100 anos, então já viu né? A coisa só melhorava quando eu conseguia carona para ir e voltar. Bem, isso sem contar que eu tinha que estar em casa no horário estabelecido. Nem um minuto a mais. Mamãe general, nunca vou te esquecer!
Minha infância foi há mais de vinte anos, mas eu jamais esquecerei como ela foi boa e como eu fui feliz. Tudo era tão bom, mas tão bom, que hoje ainda sou criança. Não por fora, mas por dentro…. E me orgulho muito disso.
Hoje fico pensando em tudo o que a minha filha vai viver daqui para frente. Sim teremos momentos de amor e guerra, assim como todo mundo, mas o que eu mais quero é que ela seja tão ou mais feliz do que eu fui.
Infância é um momento doce das nossas vidas que pode se eternizar em nossos corações. Espero que ela também seja uma criança de alma, assim como eu.
Muito bom! Me fez lembrar de muitas coisas da decada de 80! 🙂
Criança é sinônimo de felicidade. Manter o espírito da criança dentro de nós faz com que as situações diárias sejam resolvidas com sutileza, nos torna maleáveis e práticos. A família é fundamental para proporcionar a felicidade dos filhos, principalmente no que diz respeito à mantença dos costumes e tradições. Hoje com a era digital, minha filha adora ler o Almanacão da Turma da Mônica. Proporcionar a felicidade e mostrar o lado bom da vida é papel dos pais. Viver intensamente cada dia como se fosse único e aproveitar cada minuto com alegria é um desafio, assim, como não deixar de ser criança. Um abraço a todos.