Muitas pessoas me perguntam por que eu nao gostaria de voltar a viver no Brasil. Lógico que a saudade de todos é imensa, mas acho que quando se aprende a ter qualidade de vida fica muito difícil se privar da mesma. Amo meu país, mas tambem amo viver bem.
A seguir vocês vão ler um texto da Maria Isabel Martins, que explica exatamente como as coisas funcionam aqui nos EUA. Claro que so estarei citando algumas partes do texto dela, pois essas partes dizem respeito ao que vivencio no meu dia a dia aqui em Bellingham. Vamos matar a curiosidade? Quem sabe assim todos possam entender o porque da minha decisão. Viver nos EUA é maravilhoso. Nao dou, nao vendo e nao troco.
“Viver em um país dito de primeiro mundo é algo de fato para ser vivenciado, muito mais do que para ser explicado. Há que se descobrir pouco-a-pouco. É nos detalhes que está a diferença, muito mais do que nas grandes coisas. Na minha opinião.
Começa pela manhã: toma-se um ônibus com sistema de ar-condicionado, e se você estiver andadando de bicicleta e mudar de idéia, vai ter um lugar à frente, no lado externo, onde poderá ser colocada cuidadosamente. Se tiver problema e andar em uma cadeira de rodas, não se preocupe, existe preparo para isso. O motorista aciona um botão e os degraus se ajustam à altura necessária. A pessoa sobe com a cadeira de rodas – os bancos da frente e no meio já são preparados para dar espaço. O motorista sai do seu lugar e o ajuda, inclusive colocando o cinto de segurança.
Não há roletas, cobradores, muito menos fiscais. O motorista é “senhor absoluto” dentro do ônibus, que tem telefone à sua (dele) disposição, e caso esqueça alguma coisa, é só ligar. O painel frontal tem comando digital, facilmente acionado. Mensagens de feriado e de utilidade pública são envidas por esse mesmo dispositivo. Para descer você não precisa levantar dez minutos antes da parada, pois raramente está cheio. Você levanta depois que o ônibus estiver parado. Os passageiros que querem entrar aguardam que desça, porque, geralmente, se desce pela porta da frente. Se tem que procurar o dinheiro, se tem dificuldade para descer ou subir, se esta cheio de pacotes, se esta com criancas, nada disso é problema. Tudo acontece sem pressa nem estresse. Todos aguardam tranqüilamente que o veículo (re)comece a andar, inclusive o motorista! Claro que isso incorre em problemas do tipo: uma viagem que poderia durar 30 minutos, leva uma hora, mas se ganha em qualidade de vida, acredito. Você se habitua a esses fatos e planeja seu tempo (ou replaneja).
Depois dessa viagem, você chega a um shopping, por exemplo. Lá, como em todos os lugares – e em todos mesmo! – sempre há um banheiro adaptado para pessoas portadoras de deficiência física e que usam cadeiras de rodas. Há rampas, calçadas rebaixadas, tudo (bem) preparado para este fim. Não há lugar, público ou privado, em ambiente interno ou externo, que não tenha sido adequado para essas pessoas. Também há papel higiênico e forro para o assento do vaso sanitário em todos os lugares, inclusive os banheiros públicos que existem por toda parte e mesmo na praia. Não há necessidade de ficar carregando papel higiênico na bolsa.
Se depois desse passeio você for à aula e estiver muito quente ou frio, não se preocupe. Há ar-condicionado central em todas as salas, inclusive as públicas e as comunitárias, aquelas que têm curso de inglês gratuito para os imigrantes.Também não há porque se preocupar com material escolar. Os livros, os papéis para exercícios, tudo é dado gratuitamente nas escolas. Caderno as crianças não usam. E os adultos, só para fazerem anotações de seu critério pessoal. As salas de aula são dotadas de computadores e as bibliotecas colocam Internet à livre disposição dos interessados.
Se você tiver um carro vais ser melhor. Pegue uma freeway, oh, meu Deus, qual? São tantas e tantas e você precisa se localizar antes de sair de casa. Todos os carros são “equipados” com mapas rodoviários, mas se tiver a direção exata de onde sair ou entrar, não há, absolutamente, problema algum, pois a sinalização é abundante. Mesmo assim, se errar o caminho e for uma pessoa de mediana inteligência, levará de 5 a 15 minutos para “reencontrar-se”.
Depois disso, você resolve fazer uma carteira de identidade – nos EUA é a carteira de motorista que vale, a menos que não seja motorista – e vai ao órgão do governo, oh, esqueceu a foto, não se preocupe, tudo é feito na hora. O cadastro, o exame de vista, a fotografia, e mesmo o teste teórico, se já estudou antes pegando o livreto que é distribuído no mesmo órgão. Tudo sem burocracia, por US$ 40.00 e na hora, o que pode levar de 45min a 1h30min (o tempo depende do seu grau de preparo para o teste); e depois é só marcar hora para o exame prático de direção que se gasta em média 40min do momento que se apresenta até sair com a carteira na mão. Sabe o que é mais interessante? Voce nao é obrigado a ter aulas praticas na auto escola. Aqui recebe uma carta provisoria antes do teste pratico para que voce possa treinar com um motorista habilitado. Pode ser seu pai, primo, irmao. E se voce sentir que nao esta preparado? Sem problemas, voce pode prorrogar a carta provisoria por mais um ano ate que se sinta seguro para faze o exame pratico.
A confiança é o ponto e talvez seja a mais importante constatação feita. O que você informa ou diz é o que vale. Isso tem um valor muito maior do que pode parecer num primeiro momento, porque significa que as pessoas acreditam e confiam em você realmente. Numa loja, num órgão governamental qualquer, na rua, nada é questionado: o que você diz, vale. A famosa frase “você é honesto até que prove o contrário”, é algo real e não simples frase de livro de direito. As lojas até tem segurança, mas você tem livre circulação com bolsas e sacolas.
Tem também a limpeza de todas as ruas, que são varridas, aspiradas e lavadas, quinzenalmente.
Pode-se comprar tudo pelo correio. Para adquirir selos, por exemplo, é só deixar o cheque com o pedido na sua caixinha de correio que o carteiro leva. Não, não precisa se inquietar, o cheque não vai sumir.
As residências, ou bairros residenciais, são estruturados de modo a dar conforto e proteção para seus moradores. Parecem um labirinto, pois são poucas as ruas de acesso a eles e há altas muradas separando-os e protejendo-os de acidentes e barulho das grandes e movimentadas avenues, streets, lanes, boulevards, circles, drives, roads, highways e freeways, assim denominadas as vias públicas. As casas geralmente estão de costas para as ruas principais e suas frentes para o lado interno do bairro. Todas são dotadas com sistema de aquecimento ou refrigeração central, pias da cozinha com triturador de comida, fogão elétrico na maioria das vezes, e guarda-roupas embutidos tendo portas com espelho. Todas têm, pelo menos, uma banheira. Não há cerca na frente das casas que tem belos gramados e jardins bem cuidados – às vezes nem tanto. As garagens tem de luxuosos carros e barcos a quinquilharias de toda espécie, um verdadeiro lixão residencial.
As casas são todas parecidas, pintadas em três cores básicas: salmon, bege ou cinza. Há três tipos de casas distintas: as mansões, as da classe média e as mais pobres, mas todas têm a mesma estruturação e o mesmo nivel de conforto básicos. São as da classe média mais abundatemente vistas. Feitas de madeira especial que parece um aglomerado, levam uma camada de cimento por cima e todas as janelas e portas ganham plástico preto na volta e embaixo para evitar infiltração.Têm uma estrutura leve e flexível também para evitar grandes dasabamentos em momento de terremoto. Embora tenham aquecimento, elas são naturalmente “quentinhas” quando é frio e “fresquinhas” quando é calor na rua. Raramente se vê prédios de apartamentos residenciais, e quando existem, possuem dois andares ou tres no maximo, pois o espaço é bem aproveitado, e também em função dos terremotos.
O americano tem alguns hábitos interessantes como vender todos os trastes que possuem, objetos que ganham de brinde, roupas usadas, eletrônicos que funcionam e que não funcionam e tudo que você possa imaginar – e mais ainda o que não se consegue imaginar – nas famosas garage sale ou yard sale, aliás um hábito que acho muito sábio. Mas eles dão muita coisa também. Seguidamente trocam coisas uns com os outros com a maior naturalidade, outras vezes colocam na frente da casa e qualquer um pode pegar e, se não acontecer, há os caminhões das organizações de caridade como a Salvation Army, GoodWill e outras similares que passam semanalmente para apanhar. Esses organismos vendem os produtos por preços bastante acessíveis. Assim, brasileiros, mexicanos e outros imigrantes em situações incertas conseguem montar uma casa rapidinho e gastando uma irrisória quantia. Mesmo americanos são vistos em todos esses locais, porque, mesmo sendo os pobres uma minoria, eles existem realmente. De um modo geral, os cidadãos americanos são muito simples, não há ostentação.
Você tem ajuda para muitas coisas. A Cruz Vermelha e a Salvation Army dão cesta básica mensal e dinheiro para conta de luz, por exemplo. Se você não vai no dia certo para buscar, eles ligam para a sua casa e esperam que chegue. Parece no Brasil, não? Não!
Nas escolas públicas as crianças não são apenas um número. Existe o que pode-se chamar de atendimento personalizado, porque ligam para a casa, quando a criança não come na hora do almoço, apresente alguma coisa diferente como mordida de mosquito, sinta qualquer distúrbio durante a aula, ou mesmo não compareça à escola. Por que tanta admiração? Não está acostumado com isso, né?
Você vai continuar andando nas ruas e… vai notar que são poucas pessoas, como você, que estão nas ruas. Todas estão dentro de carros. Claro que tem excessão: nas praias, dias festivos, etc. Não há gritaria nem vozerio nas ruas porque não há ambulantes, não há pedintes, não há trombadinhas, não há prostitutas, não há praticamente pedestres, enfim.
O maior ruído é produzido pela polícia ou pelos bombeiros quando têm de trabalhar. Ah, nisso eles são muito fiasquentos… acionam sirenes para todos os lados, movimentam toda a frota de veículos, colocam muitas tochas na rua – se for de noite e estiverem fazendo uma blitz -. Se for caso de incêndio, aparecem carros de bombeiros de todos os lados, nunca menos que cinco, pelo que foi presenciado. E isso acontece mesmo quando é só um alarme falso. Sem contar que a polícia ronda a noite toda com suas sirenes.
O patriotismo pode ser observado em todas as ruas e casas; bandeiras americanas são vistas por todos os lados e até no teto das igrejas. A meu ver, seja por isso talvez, uma nação tão próspera. Até porque eles trabalham de fato para isso. Isso foi outra importante constatação que fiz vivenciando o dia-a-dia deles: o americano trabalha muito, toma café no carro, onde tem dispositivo próprio para colocar dois copos térmicos. De fato, o almoço não é privilegiado, sendo o jantar a refeição mais importante do dia, o que acontece muito cedo, em torno de 5h30min e 6h da tarde.
Se resolver comprar cigarros ou bebida alcoólica, primeiro terá que mostrar a sua identidade e, segundo, não poderá beber na rua, tão pouco conduzir no banco do carro. Isto é proibido. Assim como também não poderá fumar nas danceterias, o que me fez muito feliz, pois odeio o cheiro horrível que se carrega junto quando se sai das danceterias do Brasil (I’m sorry about that!).
Se você resolver comprar um produto eletrônico, ou outro utensílio e não gostar mais em 90 dias, poderá simplesmente devolvê-lo e eles lhe darão dinheiro de volta sem reclamar. Existem setores próprios para isso. Eu ainda não sei se eles tem Codigo do Consumidor, mas de qualquer maneira a coisa funciona muito bem na prática.Todos os produtos são de muito boa qualidade e todos feitos para durar muito; inclusive os que vem da China, parecem, e devem ser, fabricados especialmente para os Estados Unidos, pois são na maioria diferentes dos que vão para o Brasil. Isso também explica porque alguns itens são tão caros.
Observando mais um pouco você vai ver que o americano é ambicioso e simples. Um pouco conservador, educado e distante. Ambiguamente amistoso e frio, pois ao mesmo tempo em que todos se cumprimentam em todos os lugares sem se conhecerem, pouco há de toque pessoal e informal que existe entre os que se conhecem. Eles não são dados a muitas demonstrações afetivas, como os latinos, por exemplo. As palavras mais ouvidas são: Excuse me e I’m sorry. Eles pedem licença e se desculpam por tudo o tempo todo.
Então escureceu, é final de semana e você lembrou que precisava comprar algumas coisas. Mais uma vez não se preocupe. O comércio fecha às 22h, o supermercado funciona 24h/dia, os bancos funcionam até as 19hs, incluindo os sábados, e o comércio todo abre nos fins-de-semana. Ah, alguns só fecham em dia de Thanksgiving, o feriado mais especial dos americanos. Não se surpreenda com a quantidade de itens que você vai encontrar. São muitas opções e variedades de um mesmo item.
Coisas ruins e/ou negativas?! Eles têm também, como pena de morte, terremotos, escandalos politícos, violência extremada em alguns momentos, aumento de gasolina, e tantas outras comuns a qualquer lugar do mundo. Mas por que falar das coisas ruins se as boas prevalecem e, além disso, as ruins a gente já conhece bem, não é mesmo?”
Por tudo isso Bellingham, onde moro, é muito especial. Agora é possível começar a entender porque nao gostaria de voltar a morar no Brasil. E olha que os motivos nem param por ai.
Beijos e até o próximo post!
Minha querida, devo discordar de varios pontos deste texto. Mas isso vai dar “pano para a manga”, como dizemos no bom portugues.
A questao e que uma vez diferente o estado, a regiao, o bairro, assim tambem os costumes e praticas das pessoas.
Lamentavelmente devo observar que o americano nao e – de forma alguma, educado. Sim arrogante, de uma forma geral. Isto todos nos sabemos, ao redor do mundo.
Naturalmente, ha excecoes. Para tudo.
Sem duvida que ha qualidade de vida. Os direitos do cidadao sao preservados e defendidos da melhor maneira possivel. Mas o servico ao consumidor e virtualmente inexistente.
Em um pais primordialmente capitalista, e como se as empresas nos estivessem fazendo um favor ao atender um chamado com relacao ao um servico ou produto.
As grandes empresas multi-milionarias sao isentas de imposto de renda ou recebem um “tax break”. Enquanto o cidadao se esfola para manter o orcamento da casa e financiar as guerras nas quais o pais se envolve – como em um jogo de xadrez.
Oi Flor, concordo com vc sim. Na verdade eu quis apenas enfatizar a qualidade de vida mesmo. Os EUA tem muitos defeitos sim, mas sinceramente acho que nao consigo mais viver o cotidiano da loucura de SP. A paz aqui é muito melhor. Hehehe. Beijao e muito obrigada pelos seus comentários. Com certeza eles refletem o pensamento de muita gente tb, e enriquece meu blog.